Se você,
meu amigo cervejeiro caseiro, se orgulha de dizer que a breja que elabora é artesanal, pense de novo. Você, caro companheiro de hobby, que usa densímetro, refratômetro, sais, leveduras importadas, automatizou seu equipamento e tem tanques cônicos para fermentar, não viu ainda o que é efetivamente usar método artesanal no fabrico de uma cerveja. Artesanal mesmo é o que faz, desde 1935, Rupprecht Loeffler, esse senhor simpático de olhos vivos e azuis, na Canoinhense, a mais antiga cervejaria do país. Lá, eu e marido estivemos nas férias (não vou dizer quando, pra notícia não ficar velha).
Na charmosa casa fica a cervejaria,
onde s. Loeffler nos espera com um cativante sorriso
Ele nos oferece suas quatro cervejas e ainda brinda com convidados
A fábrica foi inaugurada por alemães em 1900 e adquirida pela família Löffler em 1924 por 110 contos de réis e dois cavalos. S. Loeffler, que nasceu em Corupá (SC), em 1917, toca a cervejaria desde 1935. Uma vez por mês ele produz 1.500 garrafas de quatro marcas cujas receitas estão na família há muitas gerações. Leves, em torno de 3%, elas seguem a Lei da Pureza e usam apenas malte, lúpulo, água e fermento. Ele pasteuriza suas cervejas.
O moinho
Há mais de 20 anos ele conta com a ajuda de Tadeu Massaneiro, de 64 anos. Ex funcionário da distribuidora que a Brahma tinha na cidade, foi ele quem nos deu o tour pela interessante cervejaria. A água vem do poço para uma caixa e direto para o tachos de cobre que cozinha o malte no fogo à lenha .
O tacho de cobre e abaixo o forno
Depois de aproximadamente uma hora de brassagem, o mosto passa para o tacho de filtragem de madeira de carvalho que tem um fundo falso. Depois de separado o bagaço, o mosto volta para a panela de cobre onde é fervido e recebe o lúpulo.
O tacho da fervura e a concha que ele usa para levar o mosto
à banheira resfriadora
É com uma concha improvisada que todo o líquido é passado para uma mega banheira de aço onde ele resfria sob um ventilador e, por meio de um cano, segue para o fermentador. O processo, segundo Tadeu, geralmente vai das 3h às 10h.
Olha o fermentador
Juro que segurei a respiração
Lavador de garrafas, ele usa soda cáustica para tirar os adevisos e toda a sujeira
A escova que limpa as garrafas é feita de crina de cavalo
Os barris de carvalho onde a cerveja descansa têm mais de 100 anos e vieram da Europa, como a maior parte do equipamento.
É assim que eles engarrafam...
Casado com Gerda, de 85 anos, S. Loeffler tem quatro filhos, seis netos e uma bisneta. E ele atribui à cerveja caseira, que não tem conservante e faz bem para tudo, a força que exibe até hoje. E garante: bebe desde os três anos. "Lá em casa éramos cinco piá (criança) e não tinha leite para todo mundo. A mãe brigava com o pai e dizia que era para dar chope para todo mundo. Crescemos fortes, com saúde e sem pegar mosléstia. Os vizinhos pegavam, mas nós eramos tudo corado, forte, com boa saúde", lembra sorrindo. Todos os dias, ele bebe pelos menos um copo do que chama de "líquido medicinal". "Meu pai, meu avô, meu bisavô, todos faziam cerveja lá em Munique. Do mesmo jeito que era lá, fazemos aqui. Meus filhos vão ficar com a cervejaria. Não podemos deixar morrer a tradição. Temos que ter cerveja pura".
Rótulo de homenagem aos 90 anos de S. Löffler S. Loeffler é adorável, simpático e gosta de conversar. Ele passa o dia no caixa da cervejaria, onde anota os pedidos de todos os fregueses a lápis e recebe visitantes de todo canto do país. Cada uma das quatro cervejas que vende, Mocinha, Jahu, Nó de Pinho e Malzebier, ele reconhece de longe, pela cor da tampinha.
O bar é um capítulo à parte. Dezenas de animais empalhados enfeitam as paredes da casa antiga. Alguns estão em poses jocosas, fumando, fazendo gfaça. O irmão de Rupprecht, Willhelm, era taxidermista. "O tamanduá-bandeira caçamos no Mato Grosso, na floresta aqui perto de casa, caçamos capivaras, quatis, lontras e bugius. Só de macacos empalhados temos mais de 50", conta ele.
Experimentamos na visita todas as cervejas, como não poderia deixar de ser. Docinhas e leves, elas não são para todos os paladares, mas fazem sucesso e são orgulho na cidade. Do lado de fora da cervejaria, sob um frondoso pinheiro canadense (juro que esquecemos de tirar as fotos), há mesinhas num espaço Biergarten muito frequentado pelos jovens que estudam na faculdade de Canoinhas. Nós adoramos o passeio. O sol já estava se pondo e o friozinho do início da noite de inverno nos mandou embora, mas a visita ficará na nossa memória.
8 comentários:
Definitivamente o melhor post e melhor assunto do blog.
Como assim passar cerveja numa concha?
Visita obrigatória pra todos nós!
Que herói!
Parabéns, Talitinha! Lindo! Que viagem!
Beijos
Finalmente nasceu o post!!!rs
A espera valeu, ficou ótimo!!!
bjs
Parabéns pelo post.
Contribui muito para a cultura cervejeira brasileira.
Fantastica a matéria meninas! talvez a mais completa e detalhada que eu tenha visto! muito bom! Parabéns
ADOREI!!! TEMOS QUE IR.
Senhor, onde fica esse santuário?!!
siiim.. onde é este lugar maravilhoso?
esse cara é meu exemplo de vida a partir de agora.
Fica em Canoinhas, Santa Catarina. É a cervejaria Canoinhense.
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